Li no Correio dos Açores de 20 de Fevereiro último, uma interessante mas ao mesmo tempo preocupante reportagem, sobre uma conferência promovida pela Delegação dos Açores da Ordem dos Economistas onde o orador convidado, Nuno Leite, administrador de várias empresas do Grupo Bensaúde, admite que “um novo modelo de transporte marítimo tem de ter em conta a pluralidade que agora existe”. Dos armadores entenda-se.
Desde logo o tratamento jornalístico chamou-nos a atenção, quando se releva em subtítulo o seguinte: “Nuno Leite destacou que os vários estudos já apresentados apresentam riscos em termos de partição do mercado em segmentos e de segmentação das ilhas, com as maiores a serem abastecidas de forma regular e fiável e outras que vão ser abastecidas de forma deficitária. Apesar de já ter sido anunciado pelo Governo Regional, ainda não se conhecem modelos que possam substituir o actual que permite que os três armadores no mercado realizem escalas quinzenais em todas as ilhas.” (sublinhado nosso)
Ora, desde que se criaram os circuitos – Serviço Público - de transporte marítimo de cargas do continente para todas as ilhas, após a privatização desse setor, ficámos com os abastecimentos garantidos, tal como diz o ilustre conferencista, “quando era imposto aos armadores a realização de escalas quinzenais em todas as ilhas” (julgo que com exceção ao Corvo, já que esta é abastecida diretamente das Flores).
Mas há sempre outros interesses que se vão movimentando e depois da inovação da carga contentorizada, que nos trouxe menores custos: operações de carga e descarga das mercadorias e logo, menos tempo de escala do navio em cada porto; vieram outras ideias que passavam pela “paletização” e então daí, em meu modesto entender, é que não vieram melhorias para o consumidor final, nem para os empresários da construção civil das ilhas de baixo, conforme os próprios, ao tempo, afirmaram revoltados, mas sem terem conseguido qualquer atendimento. Na altura bati-me frontalmente no Parlamento Açoriano contra esta imposição da Cimentaçor, já lá vai quase uma vintena de anos, em Requerimento apresentado em 17 de Janeiro de 1995 http://base.alra.pt:82/Diario/V53.pdf ao último governo de Mota Amaral. Cheguei a falar com um Senhor Eng. Cymbron da administração da Cimentaçor, que me informou que cada empresário era livre de pôr à porta da cimenteira na Praia da Vitória, um contentor seu e adquirir o respetivo cimento, só que o transporte assim, da Terceira para o Pico, deixava de ser comparticipado, pois havia contratado uma adjudicatária – dizia ele – os TMG, para o transporte de cimento em paletes para Graciosa, S. Jorge, Pico e Faial, o que, conforme se tem verificado, parece que ainda hoje e infelizmente (em meu modesto entender) vigora.
E cabe perguntar: Vão acabar os circuitos rápidos de transporte marítimo de cargas: Lisboa – Pico, ou Lisboa - Ponta Delgada – Pico? Vamos deixar de ver em serviço semanal no Porto de São Roque do Pico, os navios porta-contentores da Mutualista ou da Transinsular, por exemplo?
No Pico, vamos passar a receber apenas carga baldeada em S. Miguel e Terceira e depois surgirão outros pequenos barcos - tipo do que acima exemplifiquei - para nos trazer essa carga?
Não me quero debruçar em mais pormenores sobre esta questão, mas apenas deixar o alerta à Câmara do Comércio da Horta e aos Núcleos Empresariais do Pico, de S. Jorge e da Graciosa, para o que afirmou o conferencista Nuno Leite, do Grupo Bensaúde: “(…) os vários estudos (…) apresentam riscos em termos de partição do mercado em segmentos e de segmentação das ilhas, com as maiores a serem abastecidas de forma regular e fiável e outras que vão ser abastecidas de forma deficitária.”
Então não é tempo de se perceberem os interesses e apetites empresariais de quem – da Terceira - nunca nos quis servir, mas sim servir-se e esses são por demais conhecidos?
Estarmos precavidos – nós os das tais ditas ilhas de baixo - é estarmos totalmente de acordo com a manutenção da tal pluralidade de armadores, que agora existe e que tão bom serviço nos tem prestado.
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